quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Na postagem a seguir vamos falar um pouco sobre o filósofo e sociólogo Francês Pierre Bourdieu.Uma troca de personagens importantes da filosofia entre o nosso grupo Corujofia e outro grupo da sala.



A História de Pierre Bordieu

Pierre Félix Bourdieu (DenguinFrança1 de agosto de 1930 — ParisFrança23 de janeiro de 2002) foi um sociólogo francês.
De origem campesina, filósofo de formação, foi docente na École de Sociologie du Collège de France. Desenvolveu, ao longo de sua vida, diversos trabalhos abordando a questão da dominação e é um dos autores mais lidos, em todo o mundo, nos campos daantropologia e sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas como educaçãoculturaliteraturaartemídialingüística e política. Também escreveu muito sobre a Sociologia da Sociologia. A sociedade cabila, na Argélia, foi o palco de suas primeiras pesquisas. Seu primeiro livro, Sociologia da Argélia (1958), discute a organização social da sociedade cabila, e em particular, como o sistema colonial interferiu na sociedade cabila, em suas estruturas e desculturação. Dirigiu, por muitos anos, a revista "Actes de la recherche en sciences sociales" e presidiu o CISIA (Comitê Internacional de Apoio aos Intelectuais Argelinos), sempre se posicionado claramente contra o liberalismo e a globalização.
O mundo social, para Bourdieu, deve ser compreendido à luz de três conceitos fundamentais: campohabitus e capital.


Em 1960 torna-se assistente de Raymond Aron, na Faculdade de Letras de Paris e principia seus estudos acerca do celibato na região de Béarn. Ainda em 1960 integrou-se ao Centro de Sociologia Europeia, do qual tornou-se secretário geral em 1962.
Desenvolveu ao longo das décadas de 1960 a 1980 farta obra, contribuindo significativamente para a formação do pensamento sociológico do século XX. Na década de 1970estendeu sua atividade docente a destacadas instituições estrangeiras, como as universidades de Harvard e Chicago e o Instituto Max Planck de Berlim. Em 1982 ministrou sua aula inaugural (Lições de Aula) no Collège de France (instituição que três anos mais tarde se associou ao Centro de Sociologia Europeia), propondo uma "Sociologia da Sociologia", constituída de um olhar crítico sobre a formação do sociólogo como censor e detentor de um discurso de verdade sobre o mundo social. Neste sentindo, esta aula inaugural encontra-se com a ministrada por Barthes (A aula) e Foucault (A Ordem do Discurso), privilegiando a discussão acerca do saber acadêmico. É consagrado Doutor 'honoris causa' das universidades Livre de Berlim (1989), Johann-Wolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e Atenas (1996). Morreu em Paris, em 23 de janeiro de 2002, depois de finalizar um curso acerca de sua própria produção acadêmica, que servirá de fundamento ao seu último livro, Esboço para uma autoanálise.


Construtivismo estruturalista ou estruturalismo construtivista
Bourdieu, permitindo ter seu pensamento rotulado, adota como nomenclatura o construtivismo estruturalista ou estruturalismo construtivista.
Esta postura consiste em admitir que existe no mundo social estruturas objetivas que podem dirigir, ou melhor, coagir a ação e a representação dos indivíduos, dos chamados agentes. No entanto, tais estruturas são construídas socialmente assim como os esquemas de ação e pensamento, chamados por Bourdieu de habitus.

© CNRS Photothèque/Nicole TIGET.

A Escola segundo BOURDIEU e PASSERON

A obra analisa e critica o modo de ver e pensar da escola francesa, e também define a mesma como “o espaço da reprodução social e um eficiente dominio de legitimação das desigualdades” (BUSETTO, 2006, p.113) , ou seja, a escola é vista pelos autores como um local, uma instituição que reproduz a sociedade e seus valores e que efetiva e legaliza as desigualdades em todos os aspectos pois é na escola que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural.

Nos primeiros capítulos, Bourdieu e Passeron defendem a idéia de que a escola não é neutra, não é justa, não promove a igualdade de oportunidades, e também não transmite da mesma forma determinados conhecimentos, pois é a cultura da classe dominante. A escola, ao tratar de maneira igual tanto em direitos quanto em deveres aqueles que são diferentes socialmente, acaba privilegiando os que por sua herança cultural já são privilegiados.

O terceiro capítulo da obra, chamado “eliminação e seleção”, descreve de forma crítica e analítica o exame na estrutura de ensino, sobretudo francês.



É a partir deste pensamento que os autores começam a caracterizar o exame como um intrumento de seleção, classificação, e tambem a mostrar seu peso e valor no ambiente escolar

Segundo bourdieu e passeron, o exame impõe uma definição social do conhecimento e da maneira de manifestá-lo, ou seja, padroniza respostas e reações relacionadas a determinados conteúdos e limita de certa forma, o conhecimento e as capacidades adquiridas e desenvolvidas ao longo dos anos.

A escola utiliza o exame para selecionar os indivíduos tecnicamente mais competentes e os classifica desde os primeiros anos de vida escolar, colocando-os sob o status de nobreza escolar.
Já aqueles originários de classes populares, muitas vezes sao eliminados do sistema antes mesmo de serem examinados e avaliados, o que mostra o quanto as desigualdades sao fortes e influentes no ingresso e êxito escolar do indivíduo.
Por isso, o conceito de reprodução, na obra destes autores, é igualmente decisivo, pois permite compreender porque os indivíduos, envoltos de discursos e ideologias dominantes, acreditam que as chances existam para todos quando, de fato, as estruturas existentes e as práticas sociais que permeiam a estrutura social, ao contrário, apenas reproduzem a situação atual da sociedade, e o exame é um instrumento claro de perpetuação da contraposição entre igualdades e desigualdades no âmbito social.”

Neste ponto, os autores utilizam os termos probabilidade de passagem e probabilidade de êxito para ressaltar o quanto as diferenças culturais podem intervir na vida e no sucesso escolar de determinada pessoa. Aqueles que vieram ou passaram por uma estrutura social pobre em condições básicas de sobrevivência e informação de qualidade, tem chances menores de obter êxito escolar e ingressar no ensino superior.
Os que conseguem, tendem a começar a reproduzir tudo aquilo que aprenderam no sistema social em que estavam inseridos e acabam, muitas vezes, recebendo o diploma sem ter desenvolvido as competências básicas exigidas pelo sistema escolar.
O exame nao pode ser reduzido a apenas um serviço ou uma prática escolar , pois ele determina a vida do sujeito em todos os aspectos, e sua supervalorização é resultado do sistema de oportunidades em que a sociedade contemporânea está baseada, uma falsa estrutura de igualdade social regida pela hierarquia dos êxitos escolares.
O sistema de oportunidades é explicado pelos autores conforme trecho:
“Eis porque a estrutura das oportunidades objetivas da ascensão pela Escola, condiciona as disposições relativamente à Escola e à ascensão pela Escola, disposições que contribuem por sua vez de uma maneira determinante para definir as oportunidades de ter acesso à Escola, de aderir às suas normas e de nela ter êxito, e, por conseguinte as oportunidades de ascensão social”. (BOURDIEU E PASSERON, 1970 p. 190)
No trecho acima, os autores caracterizam a Escola e sua estrutura como uma oportunidade de ascensão social, ou um meio, um caminho para isso, e esse pensamento é decorrente da democratização do ensino e da elevação de diplomados com o tempo, que leva a escola a substituir progressivamente as desigualdades de acesso ao ensino pelas desigualdades de currículos para manter sua função social de reprodutora social.
Com isso, pode-se notar que as escolhas de cursos e instituições de ensino passam a ser fortemente hierarquizadas e repletas de valores atribuídos socialmente graças ao capital e poder simbólico das instituições, agentes escolares e seus usuários.
Neste cenário, o que é valorizado não se restringe a apenas o quanto o indivíduo sabe ou estudou sobre determinado assunto, mas também onde e qual curso prestigiado pela sociedade cursou, efetivando mais uma vez as desigualdades, agora, de currículos.
Desta forma, a partir deste capítulo e da obra como um todo, Bourdieu e Passeron foram capazes, de demonstrar que as características sociais, culturais e políticas do sistema educacional francês, de fato, reproduziram as hierarquias existentes e as formas de dominação social, assim revelando o esvaziamento real das noções de igualdade propagadas por um sistema que seria democrático, e que a todos ofereceria tais oportunidades.
Por isso, o conceito de reprodução, na obra destes autores, é igualmente decisivo, pois permite compreender porque os indivíduos, envoltos de discursos e ideologias dominantes, acreditam que as chances existam para todos quando, de fato, as estruturas existentes e as práticas sociais que permeiam a estrutura social, ao contrário, apenas reproduzem a situação atual da sociedade, e o exame é um instrumento claro de perpetuação da contraposição entre igualdades e desigaldades no âmbito social.”



Referências
1.    Ir para cima Ana Paula Hey e Afrânio Mendes Catani,Bourdieu e a educação, Site da Revista Cult, 31/04/2014
2.    Ir para cima NOGUEIRA, Maria Alice & NOGUEIRA, Claúdio M. Martins. Bourdieu & a Educação, p.49 a 60, Autêntica Editora, 2014
3.    Ir para cima BOURDIEU, P. A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: Escritos de educação. Organizadores Maria Alice Nogueira e Afrânio Catani. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p. 41-64.

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